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quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Quando nasce um professor…

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Quando entrei na faculdade, eu não queria ser professora. E, pra ser sincera, até me formar ainda não sabia ao certo o que queria.
A teoria era linda — cheia de sonhos, planos e metodologias —, mas foi nos estágios que comecei a sentir o drama e pensar: “por que cargas d’água eu vou entrar nisso?”

Mas aí vem um seletivo, um concurso, e a gente pensa: “por que não tentar?”
E é nesse “por que não” que o destino dá o seu jeitinho de nos empurrar pra onde realmente pertencemos.

Minha “sorte” foi começar na Educação Infantil — no pré e no primeiro ano —, como professora de Arte (e não, nossa matéria não é inútil). Primeira turma: entre 25 e 30 crianças. Na teoria, seriam 25; na prática, parecia uma pequena multidão.
Eu ainda nem tinha me formado, mas faltava professor e eu queria ganhar experiência — e, claro, um trocado também.

Primeiro dia de aula: meu e das crianças.
Pra quem não sabe, o primeiro dia na Educação Infantil é um verdadeiro chororô coletivo. E confesso: minha vontade era sentar junto e chorar também.
Na teoria, tudo parecia simples, mas na prática cada serzinho dentro daquela sala era um universo único. O que servia pra um, não servia pra outro.
E foi aí que aprendi minha primeira lição: ensinar é aprender o tempo todo.

Assim como era o primeiro dia deles na escola, era também o meu primeiro dia como “autoridade” da sala. Eu precisava conquistá-los, deixá-los à vontade, mostrar que estava ali pra ajudar e ensinar.
E, como em toda turma, sempre há aquele aluno mais sensível, que acaba te ajudando a acalmar os outros.
Foi quando percebi a segunda lição: ensinar nunca é uma via de mão única.
Os alunos também nos ensinam — sobre paciência, empatia e humanidade.

Com o passar dos dias, a gente vai conhecendo as “criaturinhas” e elas vão conhecendo a gente. E não se engane: as crianças sentem quando estamos ali de verdade, quando nos importamos.
Leva tempo pra criar vínculo, pra ganhar confiança, pra entender o jeito de cada um — e pra descobrir que cada turma é um novo mundo a ser desvendado.

Sempre ouvi que “Arte é só pra decorar escola” ou “é recreação pros alunos”.
Ah, como eu ficava brava com isso!
Porque a escrita nasce do traço, do ponto, do movimento das mãos, da curiosidade e da sensibilidade.
A Arte é essencial para o desenvolvimento humano — especialmente nos primeiros anos, quando tudo está sendo descoberto.

Em outras palavras, a Arte fortalece a coordenação e o movimento das mãos, que mais tarde dão forma à escrita; desperta a linguagem e a capacidade de narrar o mundo; incentiva a criatividade e o pensamento crítico; ajuda a criança a expressar e compreender as próprias emoções; ensina a conviver, a compartilhar, a cooperar; e, acima de tudo, constrói confiança e identidade — porque toda criança que cria, descobre também quem é.

Foi entre tintas, papéis e olhares curiosos que eu realmente nasci como professora: na alegria de ver aquelas crianças pequenas descobrindo o mundo e se descobrindo também.
Claro, há toda a parte burocrática — relatórios, sábados letivos, cursos intermináveis —, mas nada apaga o brilho no olhar de uma criança quando ela aprende algo novo.

Com o tempo, precisei sair da Educação Infantil por mudanças nas leis e fui para o primeiro e segundo ano — que também têm sua magia.
Mas a minha essência nasceu lá, com os pequenos.

Hoje, ver o quanto esfarelaram a educação dói.
Ser professor se tornou uma das profissões mais difíceis e desgastantes. Muitos adoecem — pelo sistema, pela falta de respeito, pela desvalorização.
E ainda assim, seguem firmes. Todos os dias.

E foi nesse tempo fora da sala de aula que aprendi a terceira lição, talvez a mais importante: mesmo quando deixamos de ensinar, o professor continua vivo dentro da gente.
Porque ensinar e aprender são movimentos que não acabam — apenas mudam de forma.
Ainda me pego sentindo falta da rotina, das descobertas, dos aprendizados diários que só a convivência com os alunos traz. Às vezes, sinto culpa por não estar mais lá, compartilhando meu mundo e aprendendo com o deles. Mas entendi que o amor por ensinar não se apaga; ele só muda de lugar.

Talvez o maior aprendizado tenha sido perceber que ensinar é, antes de tudo, um ato de humanidade.
A gente entra em sala achando que vai formar pessoas — e sai percebendo que foi formada por elas.

Por isso, deixo aqui minha homenagem e gratidão a todos esses guerreiros sem capa, que continuam acreditando, ensinando e transformando o mundo através do conhecimento e do amor.
Feliz Dia dos Professores.

Fonte: Nádia Rocha/ Redação Amambai Notícias

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