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terça-feira, 9 de dezembro de 2025

Seminário: Violência e censura atingem nove em cada dez professores, mostra pesquisa

Seminário, realizado no plenarinho da ALEMS, discutiu violência contra os professores e projeto que trata sobre instalação de câmeras em sala de aula

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Nove em cada dez professores de todo o país já sofreram violência direta ou testemunharam perseguições e censura contra colegas de profissão. O dado integra a pesquisa “A violência contra educadores como ameaça à educação democrática: Um estudo quantitativo da perseguição a educadoras/es no Brasil”, apresentada na tarde desta terça-feira (9) durante o seminário “As câmeras de vigilância em sala de aula: coibição de crimes, promoção de segurança ou negação do ato de educar?”, realizado no plenarinho Nelito Câmara, na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (ALEMS).

Proposto pela deputada Gleice Jane (PT), vice-presidente da Comissão de Educação da ALEMS, o evento contou com a parceria da Associação dos Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (ADUFMS) e do Observatório Nacional da Violência contra Educadores (ONVE). O debate se originou da previsão de instalação de câmeras nas salas de aula de escolas da rede estadual, conforme estabelece o Projeto de Lei 264/2024, do Poder Executivo. A proposição tramita na ALEMS e tem como relatora a deputada Gleice Jane. 

A parlamentar afirmou que, como relatora da proposta, priorizou ouvir a categoria antes de concluir seu parecer. A deputada visitou mais de 20 escolas em quase dez municípios e aplicou, em parceria com a Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul (Fetems), um formulário que reuniu respostas de mais de cem escolas, mil profissionais e mais de 30 municípios. “A maioria dos professores apoia a presença das câmeras, principalmente pela sensação de ameaça e vulnerabilidade no ambiente de trabalho. Isso é um dado preocupante, porque mostra o quanto os professores estão se sentindo vulneráveis”, disse. “Há uma tentativa de silenciar o processo educacional. Nos últimos anos, tem ocorrido um assédio muito grande à educação”, acrescentou.

“Demanda legítima, mas resposta equivocada”, considera pesquisador 

A apresentação do professor Fernando Penna, coordenador do ONVE/UFF, evidenciou o contexto que leva parte da categoria a ver as câmeras como solução. “A demanda dos professores pelas câmeras nos faz pensar o mecanismo perverso que leva a isso”, comentou. Segundo o pesquisador, quando há precarização do trabalho docente e ataques constantes à liberdade de ensinar, muitos profissionais se veem “acuados, desmotivados, deprimidos, abandonados pela carreira”. Nesse ambiente, explicou, uma resposta imediata pode parecer atrativa. “A demanda parte de um local legítimo, mas a resposta é equivocada”, acrescentou.

A pesquisa ouviu 3.012 profissionais da educação básica e superior, das redes pública e privadas. Considerando a experiência direta ou como testemunha, a violência nas escolas atinge 90% dos educadores, segundo informou Fernando Penna. 

Entre docentes da educação básica, 61% afirmaram ter sofrido violência ou censura diretamente; na educação superior, o índice é de 55%. Entre aqueles que foram diretamente censurados, 58% relataram tentativas de intimidação, 41% questionamentos agressivos sobre métodos de trabalho e 35% proibições explícitas de conteúdos. A pesquisa registra ainda consequências graves, como demissões (6%), suspensões (2%), transferências forçadas (12%) e remoção de cargos ou funções (11%). Também são frequentes agressões verbais (25%) e físicas (10%).

Os temas mais atingidos pela censura estão ligados a questões centrais da formação crítica dos estudantes: política (73%), gênero e sexualidade (53%), religião (48%), negacionismo científico (41%) e questões étnico-raciais (30%). A pesquisa mostra ainda que a censura não é um fenômeno isolado, mas crescente desde a década de 2010, com picos em períodos eleitorais, especialmente em 2016, 2018 e 2022. Em grande parte dos casos, os ataques partem de dentro da própria comunidade escolar — direção ou coordenação (57%), familiares de estudantes (44%), estudantes (34%) e colegas de profissão (27%).

Para Penna, a adoção de câmeras não enfrentará as causas estruturais da violência. “O uso de câmeras pode gerar uma sensação de segurança momentânea agora, mas as consequências futuras para o uso de câmeras com áudio e vídeo dentro das salas de aula… os dados vão aumentar muito mais”, alertou.

O pesquisador defende políticas de valorização dos professores, melhorias de infraestrutura e ações de permanência estudantil. “Nossa resposta à violência não pode ser mais violência e autoritarismo. Não são as câmeras que vão diminuir a violência na escola. Ao contrário: ao longo prazo, elas tendem a aumentar a violência”, afirmou.

Confira neste link o estudo completo.

Relatório vai contemplar discussões

Depois da apresentação, a deputada Gleice Jane abriu para participação dos presentes. Ao final do seminário, a parlamentar reforçou que seguirá incorporando as contribuições da categoria no relatório, que será finalizado ainda este ano, com votação prevista para o início de 2026.

“A gente encerra o relatório, mas não podemos encerrar os debates nem a política. Temos grandes desafios para colocar novamente a educação no seu lugar de valor”, disse. “A educação tem que voltar a ser prioridade para que possamos, a partir dela, construir uma sociedade melhor e mais humana”, acrescentou a deputada.

Compuseram a mesa do evento, além da deputada, o professor Onivan de Lima Correa, vice-presidente da Fetems; Mariúza Aparecida Guimarães, representante da seção sindical da UFMS; e Celi Corrêa Neres, presidente do Conselho Estadual de Educação.

Serviço

O seminário contou com a cobertura da Comunicação Institucional da ALEMS. Veja no vídeo abaixo a íntegra da reunião.

Fonte: Osvaldo Júnior/Agência ALEMS  

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