Ele a conhecera há pouco, ainda tinham muito que estreitar-se e, tendo sido
convidado para um almoço com a família dela, um típico almoço de ano novo, trajou-se
da forma mais sóbria que conseguiu e pôs-se a caminho com larga antecedência.
Recebido pelo sogro amarelo-sorridente, Em ponto!, adentrou e, na cozinha, aquela
que devia ser sua sogra, mexia um bolo, mais francamente: você é pontual hein?!
Convidado a sentar-se, orava em silêncio para que não se falasse em política, ou
qualquer assunto perigoso. Puxaria assunto! Tarde demais, ouvira um: e o presidente?
Arrepiado, foi salvo pela avozinha, que voltava do banheiro. Tortinha, locomovia-se
com dificuldade, mas sorridente. -Olha mãe, disse o sogro, esse é o namorado da neta – Que beleza minha neta! (Sorridente, a velhinha estendeu-lhe a mão trêmula e pediu
um beijo). Sentaram-se e ele, entre a frágil velhinha e o sogro, sentia-se apertado,
porque realmente estava: a mesa era minúscula e fazia muito calor.
Quis promover-se às custas de uma piada de sogro; nervoso, acalorado, apertado,
gesticulava quando bateu com o cotovelo na fronte da idosinha. Ouviu-se um ai!
Seguido de um silêncio ensurdecedor. Apressaram-se para acudir a idosa, que apoiava a
fronte em uma das mãos, olhos fechados.
Mãe e filha levaram-na para quarto, deixando-o sozinho na mesa com o sogro; depois
voltaram sem graça, afundando o precipício que se instalava ali.
Logo a avozinha, do quarto; a nora, apressada, ajudou-lhe a chegar ao banheiro,
vomitaria. Vomitou, deitou-se e continuou reclamando de dor.
O jeito é levá-la ao hospital, sugeriu o sogro, já meio ríspido. Foi um corre-corre, a mãe
procurava os documentos.
Arrancaram de lá e ele ficou observando, imóvel, passado, sem conseguir dar conta de
si. Foi para casa e trancou-se no quarto.
Ficou por ali, trancafiado. Iria ao hospital? Não sem antes uma mensagem da amada.
Logo veio: “oi, minha avó não está bem e acho melhor você não vir aqui”. Passou a
chorar compulsivamente, resguardado pelo barulho da chuva que se aproximava.
Permaneceu de cócoras, choroso, cerca de três horas. Tremendo, pegara o celular
neste exato momento para ler uma nova mensagem: “minha avó faleceu, não me
procure mais, é tudo que eu te peço”. Foi um tiro que lhe acertara o peito, mas engoliu
o choro.
Saiu num rompante, fez que nada havia acontecido, perguntou ao irmão se poderia
Tomar-lhe a moto emprestada, por uma hora, voltaria até antes, saiu.
Suas vistas embaçavam, tremia dos pés à cabeça, pegou a via de acesso à saída da
cidade, logo estaria na rodovia, acelerando, em direção ao nada, que agora era o seu
tudo.
