16/06/2017 21h31
Ao comentar a nova doutrina dos Estados Unidos para a América Latina, pela qual os norte-americanos se sentem autorizados a intervir no continente para “garantir a democracia”, o escritor Fernando Morais afirma que Cuba é apenas uma cortina de fumaça
Fonte: Brasil 247
Ao comentar a nova doutrina dos Estados Unidos para a América Latina, pela qual os norte-americanos se sentem autorizados a intervir no continente para “garantir a democracia”, inclusive militarmente, o escritor Fernando Morais afirma que Cuba é apenas uma cortina de fumaça.
O alvo real dos Estados Unidos, diz ele, são as maiores reservas de petróleo do mundo, na Venezuela, governada por Nicolás Maduro. “Trump diz que os Estados Unidos têm obrigação de garantir a democracia na América Latina e citou Cuba, obviamente. Mas fez referências repetidas à Venezuela, dizendo que se não houver democracia na Venezuela, os Estados Unidos terão que intervir de alguma maneira”, afirma.
Ele lembra, no entanto, que a Venezuela tem um exército coeso, equipado pelos russos e diz que os americanos estão caçando encrenca. “A Venezuela tem hoje, por exemplo, 36 caças bombardeios Sukhoi Su-30 russos, que são capazes de, decolando de Caracas, chegar em pouco mais de uma hora e bombardear Washington ou Nova Iorque. É muito ruim, é uma ameaça que afeta todo o mundo essa arrogância, essa volta da política imperial dos Estados Unidos na América Latina.”, afirma.
Quanto ao Brasil, desde o golpe de 2016, o país optou por uma submissão voluntária ao Império e adotou como uma de suas primeiras medidas a entrega das reservas do pré-sal.
O presidente Donald Trump anunciou hoje à tarde em Miami que vai anular os acordos assinados pelos presidentes Barack Obama e Raul Castro. O Trump falava para uma plateia em Miami que eu conheço bem. Para escrever o livro sobre os cinco cubanos que estavam presos nos Estados Unidos, eu passei dois anos viajando para Miami, fui umas quinze vezes para entrevistar essa gente, esse submundo. É uma máfia de traficantes de drogas, armas. E usam a alavanca, a gazua da contrarrevolução para sobreviver.
É grave o que o Trump anunciou, mas ele não anulou integralmente o que foi assinado entre Obama e Raúl. Por exemplo, os dois países mantêm relações diplomáticas e os familiares de cubanos que vivem nos Estados Unidos vão poder continuar viajando para Cuba. Mas há ameaças gravíssimas, por exemplo, suspender as viagens de cidadãos norte-americanos, que ainda eram limitadas. Para se ter uma ideia no passado inteiro, quase trezentos mil norte-americanos foram a Cuba. Este ano os trezentos mil estão chegando agora, no meio do ano. Então, a tendência é que isso fosse dobrar.
Leia a análise de Fernando Morais
O Trump está fazendo isso, na minha opinião com dois objetivos: primeiro lugar é algo que é espantoso: ele está atendendo reivindicações da extrema, extrema direita cubana da Flórida, cubano-americana. O que é há de pior. Há pesquisas de opiniões públicas que foram feitas ao longo dos últimos meses que mostram que 75% da população norte-americana são a favor, não só dos acordos entre Obama e Raúl, mas sobretudo a favor do fim do bloqueio, que não acabou até hoje.
É uma provocação, evidentemente, não acho que isso vá avançar muito, mas eu temo que possa estar havendo aí aquele jogo de botar o bode na sala. Porque o Trump faz referências também à Venezuela.
Diz que os Estados Unidos têm obrigação de garantir a democracia na América Latina e citou Cuba, obviamente. Mas fez referências repetidas à Venezuela, dizendo que se não houver democracia na Venezuela, os Estados Unidos terão que intervir de alguma maneira. Olha, eles estão caçando encrenca, porque a Venezuela hoje, tem forças armadas coesas com projeto bolivariano. Segundo que é um exército muitíssimo bem armado.
A Venezuela tem hoje, por exemplo, 36 caças bombardeios Sukhoi Su-30 russos, que são capazes de, decolando de Caracas, chegar em pouco mais de uma hora e bombardear Washington ou Nova Iorque. É muito ruim, é uma ameaça que afeta todo o mundo essa arrogância, essa volta da política imperial dos Estados Unidos na América Latina.
Mas eu insisto nisso, me parece que as agressões, a maneira desrespeitosa com que Trump se referiu a Cuba, na verdade, isso é uma cortina de fumaça para esconder o alvo verdadeiro do império americano: a maior reserva de petróleo do planeta que é a Venezuela. Vamos ficar de olho.
