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quinta-feira, 15 de maio de 2025

Amambaiense que atua no Hospital das Clínicas da USP-SP fala sobre a Covid-19

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09/04/2020 14h20

Médico amambaiense que atua no Hospital das Clínicas da USP-SP fala sobre a Covid-19

José Victor Bortolortto Bampi é formado pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) e faz especialização médica em Infectologia no Hospital das Clínicas da USP-SP

Fonte: Redação

Amambai (MS)- Neste sábado (11) é celebrado o Dia do Infectologista, data escolhida por ser o dia de nascimento de Emílio Ribas, médico atuante no campo das doenças infecciosas e que foi pioneiro no estudo e cura de infectologias no país.

O médico amambaiense, José Victor Bortolortto Bampi, faz especialização em Infectologia no Hospital das Clínicas da USP, em São Paulo, e fala como tem sido os dias no hospital, as mudanças que a Covid-19 causou na rotina do hospital e da população da capital paulista. O depoimento foi feito com exclusividade para o jornal eletrônico Amambai Notícias.

Confira:

Desde o dia 26 de fevereiro deste ano, o Brasil inevitavelmente se deparou com o aparecimento de um novo vírus já conhecido por outros países: o SARS-CoV-2, popularmente conhecido como coronavírus. Logo em março, com um ano de formado na UFGD, iniciei o programa de especialização médica em Infectologia no Hospital das Clínicas da USP-SP. Infectologistas são os médicos especialistas em doenças que se transmitem por bactérias, fungos, parasitas e vírus; logo, são os que estão mais por dentro do modo como essas patologias nos afetam.

Ao que possa parecer nas cidades do interior como Amambai, essa crise não aparenta ser tão grande quanto divulgado. Ledo engano, visto que em pouco tempo de circulação já tivemos casos confirmados em todos os estados de um país tão amplo quanto o nosso. Logo após sua chegada no Brasil, foi classificado como pandemia pela OMS no dia 13 de março. O modo de transmissão desse vírus pelo contato com doentes e principalmente secreções expelidas por mucosas e vias respiratórias (como saliva, espirros e tosse) faz com que ele seja extremamente bem-sucedido em se replicar dentro de populações com facilidade.

Aqui em São Paulo-SP, nossa rotina e hábitos de vida mudaram fundamentalmente após o início dos casos. Em nosso hospital, limitamos as consultas ambulatoriais apenas para o essencial, direcionamos muitos pacientes internados para outros locais e abrimos novos leitos de UTI focados apenas em atender casos de coronavírus, bem como nas enfermarias de outras especialidades que se tornaram isolamentos para esses pacientes. Todos, claro, com alto fluxo de pacientes. Isso também não se resume ao hospital onde estou, diversos outros serviços de saúde modificaram totalmente sua rotina em função desses pacientes. A pandemia é real e devemos tratar disso com a seriedade necessária.

Me encontro agora em um dos serviços de UTI do hospital voltados para esses pacientes, onde diariamente nos deparamos apenas com os casos graves. Nesse contexto de gravidade, o vírus leva a uma forma de doença pulmonar chamada SARA – Síndrome da Angústia Respiratória Aguda – que também pode ser causada por outras doenças. O que a experiência global demonstra é que esses pacientes respondem aos tratamentos que já usávamos para as demais causas de SARA, como fisioterapia, uso adequado do respirador e outros cuidados de UTI.

A pior parte disso é que, infelizmente, ainda não temos um remédio que mate o vírus diretamente. Ao contrário do que certas autoridades, como o presidente da República, divulgaram, não existem evidências suficientes para que sejam usados remédios como hidroxicloroquina, vitamina D, zinco, azitromicina e ivermectina. Reforço: não há nada de concreto que nos diga que essas medicações eliminam o vírus ou ajudam na recuperação dos pacientes. Discutimos esse assunto diariamente aqui, com análise de diversas publicações científicas no tema. Simplesmente não existem razões para o uso dessas drogas no momento, o vírus vai ser eliminado naturalmente pelas defesas do corpo desses pacientes. No futuro, caso as evidências se tornem palpáveis, eu oferecerei esses remédios aos meus pacientes na hora.

Felizmente a maioria dos casos de coronavírus na população geral são leves e benignos. Contudo, com um grande número de casos, essa minoria de graves se torna gigantesca e acaba com a capacidade dos sistemas de saúde. As populações de risco como transplantados, idosos, pessoas com doenças crônicas (Diabetes, pressão alta, doenças auto-imunes e demais) também são mais sensíveis e têm mais risco de sofrerem com formas graves da doença.

Tendo isso em vista, nesse momento é essencial que as pessoas sigam as recomendações de: ficar em casa, evitar aglomerações e que apenas os serviços essenciais fiquem abertos. Essas medidas de quarentena foram fundamentais para que outros países diminuíssem suas taxas de infectados. Lavar bem as mãos, por pelo menos 30 segundos, ou o uso do álcool em gel são as medidas individuais que mais reduzem a chance de contágio, bem como o isolamento se você for sintomático.

Também sou favorável ao uso de máscaras caseiras junto com as medidas acima como orientado pelo ministério da saúde. Elas não são boas para evitar a infecção, mas são uteis para impedir que pessoas sem sintomas ou com poucos sintomas transmitam a doenças para os demais – o que comprovadamente acontece.

Por fim, é importante lembrar que não sabemos bem por quanto tempo isso vai durar. Agora a certeza é que será muito pior caso o coronavírus não seja levado a sério e não tomarmos as medidas higiênicas e de quarentena. Se nossos serviços já estão em ponto de saturação, imaginem no contexto amambaiense onde não há capacidade para se lidar com casos graves.

Fiquem em casa, lavem as mãos e defendam o SUS. O fim que isso vai tomar depende da nossa cooperação.

José Victor Bortolotto Bampi

José Victor Bortolortto Bampi formado em medicina pela UFGD / Foto: Arquivo Pessoal

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