13/10/2020 20h43
Odete Vieira Melo e Viliano Galdino tiveram seus causos classificados e cada um recebeu um exemplar da obra Che Tiempo Guaré, de autoria do amambaiense Nery da Costa Júnior.
Fonte: Viviane Viaut
Um concurso de causos sobre Amambai promoveu a divulgação de muitas histórias e encorajou a produção literária por escritores até então anônimos e amadores.
A iniciativa foi do amambaiense Tiago Mariano e foi realizada por ocasião do 72˚ aniversário de emancipação político-administrativa, comemorado oficialmente em 28 de setembro.
A divulgação aconteceu pelo facebook – “Parabéns Amambai, hoje 72 anos de uma linda história. E como forma de agradecimento vamos sortear dois livros Che Tiempo Guaré autografados pelo autor amambaiense Nery Costa Junior. Quer participar? É muito fácil, comente aqui embaixo nos comentários um causo, fato, ocorrido aí nas bandas do Alto Amambai, as duas melhores histórias receberão um livro cada.”
Quase três dezenas de causos foram enviados a comissão julgadora, composta por membros da família Mariano – Omar Mariano, Rosa Serejo Mariano, Jose Ramão Mariano Filho, Abdo Mariano, Igor Mariano, João Charão Mariano e Nader Mariano.
Omar Mariano, jurado, escreveu no Face: “Parabéns aos participantes dessa brincadeira salutar. Se não fosse essa brincadeira, talvez, jamais saberíamos dessas histórias. Foi bom lembrar de pessoas que fizeram parte da minha infância, lembro-me perfeitamente do seu Luxí, vestido sempre numa indumentária típica, um facão entre a perna e o arreio, bombacha e certamente um revólver no coldre da guaiaca montado em seu cavalo, sempre foi bem vindo em nossa casa. Dona Alzira, com seu andar ligeiro. Boas lembranças …”
O prêmio aos dois novos escritores selecionados – o livro Che Tiempo Guaré [Nery da Costa Júnior – 1 ed. – Dourados, MS: Biblio Editora, 2020] – é uma ideia peculiar, já que o cenário da obra é o que o autor denomina de Alto Amambai, cuja capital é Amambai. Nas histoestórias do Che Tiempo Guaré, que abrangem um longo período de tempo, constam, dentre outras, a exploração da erva-mate e a colonização na região fronteiriça, bem como a reflexão sócio-político sobre as comunidades indígenas, assim como muitos causos e fatos.
Os novos escritores
Os novos escritores selecionados pela comissão julgadora dos Mariano foram Odete Vieira Melo e Viliano Galdino, dois amambaienses que surpreenderam com a originalidade de suas histórias. Ambos relataram em seus causos situações envolvendo suas famílias.
“Minha família tem muitos contos bons. Meu avô Floriano Vieira dos Santos Soares chegou em Amambai de carro de boi com toda família e meus avós paternos senhor Elmonges e vovó Corvina, também eram músicos. Faziam muitas festas nesta região. Tio Raul Tobias sanfoneiro, meu pai Laurindo Tobias tocava violão”, acrescentou Odete aos leitores.
“(…) fico grato a ele [Tiago Mariano] por abrir este espaço onde que com grande satisfação contamos causos que atingiram em várias proporções nossos sentimentos (…)”, avaliou Viliano Galdino.
O desembargador federal amambaiense e escritor, Nery da Costa Júnior, disse que sentiu-se honrado com a oferta do seu livro aos vencedores do concurso. “É uma satisfação contribuir com o fomento à literatura, ainda mais em Amambai, minha cidade e que é inspiração para o Che Tiempo Guaré e para todos q a conhecem.”
Os causos selecionados
Odete Vieira Melo
Outro conto de arte da Dona Laicy Vieira dos Santos. Era moça Formosa e cortejada pelos moços da região. Certa tarde chega na fazenda do vovô Floriano um pretendente. Moço garboso e bem alinhado. E fica ali cortejando a filha do fazendeiro abastado. Minha avó que também era traquina chama a filha que vem obediente atender a mãe. Vovó pede pra filha cortar suas unhas. Minha mãe acrocou frente sua mãe e iniciou o feito. Mas aí aconteceu que minha mãe incomodada por estar na frente do moço se distraiu e cortou o dedo de sua mãe que no susto empurrou minha mãe, mas antes de cair…. saiu um sonoro peido, gente um peido…. Minha mãe até hoje não consegue olhar o moço, que na verdade hoje já é um senhor de idade. Esses dias, agora que está viúva e ele também, pensamos em juntar os dois. Ela rindo muito disse: esse naoooooooo kkkkkk
Viliano Galdino
A história que tenho pra contar-lhes..envolve o meu bisavô..Ele se chamava Luciano Jacques..”O Luxí”..Correntino Malicioso..Ginete..Jóquei.. andava na Cancha Pública num Tordilho Branco..machete na cintura..e também um 44, trocava tiros por lá as vezes, dizia ele que desaforo não se leva pra casa..cumprimentava os amigos com a frase “Quanto Estimo”..Ensinou minha mãe Ilda Jacques a rezar.. e também a atirar..Isso ela ainda pequenina.. Tinha ele um criado que porventura muito considerava..ele se chamava Laide..Era um jovem inconsequente..abusado.. não havia absorvido os ensinamentos do Luxí..mas mesmo assim meu bisavô o estimava muito..Certa vez, Laide se envolvera em uma peleia em um salão de baile..tentou correr..ficou enrroscado no arame farpado..ali foi morto a tiros e golpes de machete.. O Luxí era muito católico..tinha uma grande proximidade do Padre Bom Filho..Era muito querido pelo sacerdote.. Luxí ficou extremamente indignado com a morte de Laide..mesmo tendo conhecimento de suas atitudes abusivas e desrespeitosas.. Pelo fato de Laide fora um rapaz de má conduta.. Padre Bom Filho não permitiu que Luxí o velasse no templo da Igreja Católica.. Luxí enfureceu-se com o padre.. lhe apontou o dedo e disse: – Padre..! Nunca mais eu coloco meus pés nesta igreja..nem mesmo morto..! .. Passaram-se décadas ..meu BISAVÔ possuía uma propriedade na Av. Pedro Manvailer..as margens do Rio Panduí.. Ali infelizmente não suportou o terceiro AVC..e veio a falecer..me lembro bem do velório dele..tinha apenas 4 anos..o velório aconteceu em sua propriedade..o sepultamento estava marcado para as 17:00 horas..mais ou menos umas 15:00 horas..ou seja..2 horas antes do sepultamento, os familiares combinaram de passar com o corpo na Igreja Católica, para velá-lo lá por alguns instantes… então assim ficou combinado..as 16:00 horas saímos todos com o corpo de meu bisavô..rumo a Igreja Católica..e na sequência..o cemitério .. pois o fato que quero salientar.. é que todos esqueceram de parar no templo católico..seguiram direto para o cemitério.. somente se lembraram no momento em que estávamos jogando punhados de terra no caixão dele que já estava dentro do túmulo.. pois meu bisavô cumpriu a palavra dele..mesmo depois de morto.. aconteceu como ele disse ao padre Bom Filho..que não colocaria seus pés mais dentro daquela igreja..nem mesmo morto..
Estímulo
A amambaiense Iveth de Brum é uma das que se sentiu estimulada a escrever suas lembranças: “Depois de ler as narrações descritas aqui, me animei, vou escrever sobre algo que me enchia de entusiasmo e êxtase quando acontecia e normalmente era a cada domingo. Quando criança e até minha adolescência morávamos numa casa de madeira, na saída pra Ponta Porã, em frente ao campo de futebol municipal onde, na época de campeonato, minha alegria era satisfeita quando todos os jogadores, no intervalo partida, iam tomar água fresquinha do poço na minha casa. Na época eu era adolescente, e o que mais me encantava eram as “coxas ” dos moços, pra mim eles eram “celebridades”, e eu que puxava a água pra eles que não eram poucos, alguns molhavam o corpo inteiro, quanta emoção. Quando meu pai estava em casa, era ele que se prestava a isso, mas eu preferia fazer. Eram do inesquecível Milionários, que faziam a minha alegria. Passados esses momentos de êxtase só me restava aguardar o próximo domingo e torcer pra que meu pai não estivesse em casa. Minha adolescência foi fantástica.”




