19/12/2011 14h18 – Atualizado em 19/12/2011 14h18
Fonte: Estadão
Quem ainda se emociona com os olhos esbugalhados e injetados de Gollum, o hobbit de O Senhor dos Anéis, pode desconfiar da importância do trabalho do supervisor de efeitos especiais Joe Letteri. Foi ele que, a partir da combinação de animação por computador e uma sofisticada tecnologia para captação de movimentos, utilizando câmera dinâmica de fluidos, permitiu que se observasse toda a movimentação de seus músculos e ossos. Uma proeza de criação.
Depois, Letteri assumiu o desafio de dar veracidade às criaturas azuis de Avatar até chegar ao seu principal desafio: os símios de Planeta dos Macacos: A Origem, filme que a Fox acaba de lançar em DVD e Blu-Ray. Ele partiu da mesma tecnologia usada em Avatar, ou seja, os atores que interpretaram os macacos usaram roupas especiais e seus movimentos foram traduzidos digitalmente em uma imagem gerada por computador. Assim, o primata que o espectador vê na tela é fruto do trabalho de atores (em especial Andy Serkis, que viveu o Gollum e agora criou as expressões de Cesar) com uma roupagem de pelos criada pela tecnologia digital.
Quatro vezes ganhador do Oscar de efeitos especiais (por duas sequências de O Senhor dos Anéis, As Duas Torres e O Retorno do Rei, além de King Kong e Avatar), Letteri participou ainda de As Aventuras de Tintin, um dos filmes do verão brasileiro de Steven Spielberg, e cuida agora de outro desafio, Hobbit, também de Peter Jackson, que deverá estrear em 2012. Sobre esse trabalho, ele respondeu, por vídeo, as seguintes questões.
Como foi o trabalho de Andy Serkis na interpretação de Cesar?
Primeiro, Andy descobriu aos poucos qual seria o melhor desempenho para traduzir fisicamente o papel de um macaco. Era importante também conhecer aspectos emocionais que fariam o espectador entender a jornada de Cesar no filme. Depois, usamos a tecnologia de captura de desempenho para gravar os movimentos de Andy conforme ele atuava em todas as cenas. E, finalmente, criamos símios de aparência realista, ou seja, com textura e movimentos que recriam o desempenho de Andy agora transformado em um chimpanzé.
Os símios do filme, então, são totalmente digitais?
Sim, não há nenhum verdadeiro e o motivo de fazermos isso foi para realmente conseguir explorar seu comportamento e trabalhar com a evolução deles ao longo do filme. E o único jeito de se conseguir isso era criando símios realistas cuja interpretação podia mudar sutilmente, conforme o roteiro exigisse.
Como foi estudar sobre macacos?
Passamos muito tempo no zoológico de Wellington, que conta com uma boa tropa de chimpanzés. Passamos muito tempo fotografando, filmando, observando seu comportamento quando alimentados e examinados. Isso nos permitiu descobrir importantes sutilezas tanto na interação entre eles como com os tratadores humanos. Também nos ajudou a compor a textura dos pelos, a forma de sua face, a movimentação muscular.
A animação facial ainda necessita de atores por conta dessa complexidade muscular. Com a evolução da tecnologia, isso pode mudar?
Ainda dependemos de artistas por dois motivos. Primeiro, porque ainda há muito o que se aprender sobre o funcionamento dos músculos faciais – e esse mistério também acontece na ciência médica. Além disso, o desempenho ainda tem um aspecto emocional que nos interessa. Assim, combinamos tecnologia, estudos e pesquisas para que o resultado seja o mais preciso possível. Lembro apenas que ainda não há substituto para a simples observação, para a infinita curiosidade de se descobrir se o desempenho de Andy se encaixa na história.
Em relação a Avatar, como a técnica evoluiu até Planeta dos Macacos?
O grande avanço tecnológico foi usar o sistema de captura de desempenho que nos permitiu criar um mundo virtual dentro de um estúdio fechado e levar isso para o set de um filme com ação ao vivo. Isso nos permitiu ter a habilidade de usar essa tecnologia em qualquer lugar exigido pela história.
Em seu trabalho, qual é a fronteira que separa arte da ciência?
Não há fronteiras, pois ambas trabalham juntas. É preciso ter algum entendimento do mundo físico para saber como fazer boa arte. Por outro lado, é preciso ter intuição sobre o que pretende passar na forma de imagem para realmente fazer a peça funcionar.
Joe Letteri: Nascido na Pensilvânia, EUA, em 1957, Letteri é um dos mais influentes profissionais de efeitos especiais do cinema atual. Trabalhou na Industrial Light & Magic de George Lucas (criou os animais de Parque dos Dinossauros) e hoje está na empresa Weta Digital, de Peter Jackson.
