28/09/2013 11h00 – Atualizado em 28/09/2013 11h00
Fonte: Olga
Em francês “petit mort” é a expressão utilizada para orgasmo. Ainda que o biquinho da pronúncia francesa deixe tudo mais charmoso, há um quê sombrio ao denominar o auge do prazer sexual “pequena morte”. Pois, é.
Dividindo seu tempo entre Buenos Aires e Nova York a premiada ilustradora argentina Fernanda Cohen, 33, é a autora de Guía Ilustrada del Orgasmo Femenino (Ed. Livros del Zorzal, ainda sem tradução para o português). A ideia do livro, publicado em 2012, foi impulsionada durante um cruzeiro sem grandes emoções com seu ex-marido, mas principalmente por sua percepção em relação às enormes questões, culpas e tabus existentes em relação a sexualidade humana, e principalmente, no que toca ao prazer feminino.
Fernanda Cohen criou “Melba” uma menina-mulher que usa vestido vermelho, cinta-liga e penteado volumoso. Ela encena de um jeito delicado e didático as nuances do prazer feminino ao longo das 110 páginas da publicação. Aliás, a versão francesa do livro foi chamada de Le petit Guide Malicieux du Plasir Féminin (Guia Malicioso do Prazer Feminino). “O Guia da Pequena Morte” ia ficar pesado, né?
Por e-mail, desde Buenos Aires, ela respondeu a entrevista a seguir:
Foi seu primeiro trabalho com um tema ligado a sexualidade feminina?
Grande parte do meu trabalho tem uma carga de sensualidade. É inerente ao meu estilo. A série autoral El água me moja (“A água me molha”) é onde tal característica ficou mais evidente.
E como surgiu a ideia do livro?Em parte, surgiu com o despertar natural da minha sexualidade aos meus 20 e poucos anos, e o tédio em um cruzeiro com o meu ex-marido, em 2009, contribuiu. Assim nasceram as primeiras vinte páginas, as quais com a ajuda de Daniel Divinsky (o editor do célebre quadrinho da Mafalda) se extenderam para 110 páginas, ganharam o prólogo do sexólogo Juan Carlos Kusnetzoff e chegaram ao público graças editor Leopoldo Kulesz da Libros del Zorzal.
E por que optou pela abordagem do orgasmo feminino com esse viés mais didático?Porque é um tema universal e atemporal. A sexualidade humana é algo muito íntimo e intangível. É uma temática que sempre seguirá sendo delicada. Em sua vertente médica é levada a sério demais, e em geral é tratada como brincadeira, vulgarizada. Me intrigava tratar o tema de maneira séria, contudo, com abordagem leve e elegante, na qual algo tão intagível como o orgasmo pudesse ser visto pelo ângulo mais didático possível.
Você fez uma pesquisa científica sobre o orgasmo feminino para escrever o livro?Trabalhei as minhas próprias noções do tema, que foram validadas pelo prólogo do Dr. Kusnetzoff para que o livro tivesse a informação 100% confiável. Comecei elencando os diferentes tipos de fantasias sexuais que nós mulheres costumamos ter e depois os coloquei em ordem cronológica para que o orgasmo feminino pudesse ser entendido do princípio ao fim.
Como criou a roupa e o penteado da protagonista do livro?A Melba nasceu espontaneamente nesse cruzeiro que falei antes. Foi institivo, mas se paro para analisá-la creio que quis expressar algo inofensivo: uma menina, mas que por sua vez tivesse a malícia, expressa pela cinta-liga.
Você viveu em Buenos Aires e em Nova York. Consegue comparar a postura das mulheres e dos homens frente ao tema “orgasmo” nas duas sociedades?Viva onde viva, eu sempre serei uma mulher argentina. Minha percepção diz que a mulher latino-americana, falando de modo geral, está menos estruturada com a sua sexualidade do que a estadounidense. Por outro lado, há uma obsessão pela mulher latina, a qual se vê nos filmes estrelados pela Salma Hayek, por exemplo. E o homem norte-americano, pela minha experiência, é mais tímido que o o argentino.
Como os leitores receberam o trabalho?Há pouco tempo recebi um e-mail de um suiço que leu a edição francesa do livro e me agradeceu por fazê-lo entender mais a respeito da sexualidade feminina. Ele disse que se perguntou por que ninguém havia contado para ele antes. Assim poderia ter tido outro comportamento com as mulheres. Achei divertido.



