14/06/2014 09h31 – Atualizado em 14/06/2014 09h31
Fonte: Matéria
Para uma Rússia que chegou três vezes às quartas de final da Copa do Mundo da FIFA™ e terminou em quarto lugar na edição de 1966, ficar de fora da maior festa do futebol desde 2002 deve ter parecido uma eternidade. Naquele Mundial, Aleksandr Kerzhakov tinha menos de 20 anos e não era titular da seleção, que voltou para casa ainda na primeira fase. A experiência dele no torneio realizado na Coreia do Sul e no Japão se limitou a oito minutos jogados na última partida do Grupo H, selada com derrota para a Bélgica por 3 a 2 e a eliminação russa.
Depois de ver a classificação às edições de 2006 e 2010 escapar por pouco, Kerzhakov finalmente terá a oportunidade de recuperar o tempo perdido. “Foi uma festa, exatamente como no Brasil, com vários japoneses nos saudando pelas ruas”, recorda ele em entrevista ao FIFA.com. “Lembro disso e dos nossos resultados ruins, é claro”, completa o único jogador do elenco russo que esteve na última participação do país em Copas.
Se o tempo é o melhor remédio, Kerzhakov curou as feridas daquela eliminação, mas avalia que a Rússia precisa fazer mais desta vez. “Pessoalmente, não tenho nada a provar”, garante o atacante do Zenit de São Petersburgo. “Mas queremos dar alegria à nossa torcida, que esperou tanto tempo. Graças a essa Copa do Mundo, temos a oportunidade de reconquistar o torcedor e lhe dar motivos para se orgulhar.”
Tempos difíceis
Os apaixonados torcedores da Rússia têm vivido tempos difíceis desde 2002, e alguns se mostram descrentes quanto à possibilidade de ver a seleção brilhar em gramados brasileiros. “Eu gostaria de ter visto mais entusiasmo depois da classificação e do primeiro lugar do grupo”, lamenta Kerzhakov. “Havia um certo pessimismo, não de todo mundo, mas de parte da torcida, e isso nos surpreendeu um pouco. Esperávamos que mais pessoas fossem ver as nossas partidas na Rússia antes de viajarmos para a Copa do Mundo, mas o que se pode fazer? Vamos tentar deixá-las felizes com as nossas atuações no Brasil.”
De fato, após esse longo hiato, Kerzhakov espera que a hora russa finalmente tenha chegado. “Estamos nos preparando para ganhar esse torneio”, arrisca o ex-Sevilla. “Todos os nossos jogadores atuam na própria Rússia e as pessoas de fora do país não nos conhecem. O importante é que o nosso técnico Fabio Capello nos conhece e conhece os nossos pontos fortes. Sabemos do que somos capazes, e se cada um conseguir jogar o máximo do que sabe, teremos sucesso.”
Aos 31 anos, Kerzhakov não parou no tempo. Maior artilheiro da história da primeira divisão russa com 213 gols e ostentando títulos como um campeonato nacional, uma Copa da Espanha e uma Liga Europa, ele não se dá por satisfeito. “O segredo é nunca cansar de trabalhar”, explica o atleta revelado em 2001. “Quando envelhecemos, precisamos ser cada vez mais atenciosos e saber cuidar do corpo e da saúde. Sou o mesmo desde que comecei, só ganhei em experiência. Sei o que representa uma carreira de jogador, e ninguém é responsável por cuidar de mim. Permanecer em alto nível só depende de cada um.”
Tempos modernos
Kerzhakov hoje se encontra no papel de irmão mais velho, depois de ter tirado proveito dos conselhos de jogadores como Valeri Karpin, Victor Onopko, Yuri Nikiforov e Aleksandr Mostovoi na juventude. “Eles me integraram muito bem, apesar da diferença de idade”, afirma o homem-gol, relembrando os primeiros momentos na seleção. “Não havia golpe baixo ou quem se sentisse superior, e essa atitude fez com que eu me sentisse à vontade. Hoje em dia, ninguém pede que eu desempenhe essa função, mas é importante ajudar os jovens a se sentirem à vontade. Portanto, faço o meu melhor para ajudá-los.”
Embora Kerzhakov tenha perdido espaço no clube com a concorrência do brasileiro Hulk e do venezuelano Salomón Rondón, a sua experiência é indispensável em meio a uma seleção jovem e sem estrelas, mas não sem recursos. “Somos uma equipe equilibrada em todos os aspectos”, avalia ele, que disputou 81 partidas com a camisa da Rússia. “Não temos nenhum ponto forte em especial, mas também nenhum ponto fraco. Não temos astros como Messi ou Cristiano Ronaldo, não dependemos de ninguém. Mas é óbvio que ninguém reclamaria se tivéssemos Messi ou Ronaldo no time”, brinca.
Sem nomes de peso, a Rússia conta com novas promessas como o meia Alan Dzagoev ou o atacante Alexander Kokorin. “Uma geração está substituindo a outra”, reconhece Kerzhakov, um dos últimos remanescentes da anterior. “Às vezes acontece rapidamente, e às vezes é mais lento. Demorou mais tempo para nós. Mas hoje isso é algo bom, principalmente para mim, porque eu continuo na equipe”, conclui.
