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sexta-feira, 26 de abril de 2024

Manifestações das Universidades

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18/05/2019 19h13

Por Fausto Matto Grosso

Não foram poucas as críticas que já fiz às Universidades, mas todas elas tinham destino certo e revelavam uma posição de quem queria mais delas, não menos.

Os ataques do Governo Bolsonaro às Universidades têm a intenção de amesquinhá-las. Revela puro “viés ideológico”, revanchismo, arrogância e despreparo dos últimos ministros da Educação. Acusam-nas de serem locais de “balburdia” e de “gente pelada”. Em entrevista, o ministro Abraham Weintraub disse que sobrava dinheiro para “fazer bagunça e evento ridículo” – quando a verdadeira bagunça se dava no MEC, com o jogo político dos troca-trocas das cadeiras.
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Discricionariamente, ameaçaram de redução do orçamento da UnB, da UFF e da UFBA. Pilhados nessa situação arbitrária e esdrúxula, anunciaram a extensão do contingenciamento de verbas para todas as Universidades Federais.

Um fato que contraria a argumentação de Weintraub é que as três universidades citadas são bem avaliadas, tanto no Brasil quanto no exterior. Todas têm nota cinco, o valor máximo no desempenho do Índice Geral de Cursos (IGC) do próprio MEC.

Sei perfeitamente diferenciar contingenciamento de recursos, de corte de verbas. Sou capaz, também, de identificar os irresponsáveis que levaram as finanças públicas do País ao atual descalabro. Mas, como diz o ex-Reitor da UnB professor José Geraldo de Sousa Junior “O governo não pode usar o fundamento público de gestão do orçamento para ações de represália, de castigo. Isso é desvio de finalidade. O MEC não é feitor das Universidades. Se tiver algo errado, tem de abrir inquérito e investigar. A estratégia encoberta é criminosa. É um crime de responsabilidade”.

Essa medida do Governo ainda foi acompanhada da promessa de medidas contra os cursos da área de ciências humanas e cobrança de ensino. Em convocação na Câmara dos Deputados, o ministro ainda apontou como natural a intervenção de forças policiais nos campi universitários o que afronta uma das mais caras tradições democráticas, a da autonomia da Universidade, garantida no artigo 207 da Constituição.

Como resultado de mais uma ação desastrada do MEC, na semana passada, em 170 cidades, incluindo todas as capitais, as ruas se encheram de protestos contra o arrocho na educação. Dando mais um tiro na própria testa, desde os EUA, Bolsonaro sentenciou que as manifestações eram coisas de “imbecis” e “idiotas úteis” usados como “massa de manobra”.

Por certo, havia entre os manifestantes militantes políticos de diversos movimentos, o que demonstra a grande amplitude do apoio à educação, também faixas inconvenientes e esdrúxulas, isso faz parte da democracia. Mas, milhares de manifestantes, de crianças a idosos, não tinham ligação com siglas e compareceram em participação espontânea que lembraram os protestos de 2013, quem sabe, antecipando a primavera.

De certa forma, tudo isso já era esperado desde a campanha eleitoral. Agora que o governo patina na produção de resultados positivos na economia, o que vemos é o avanço na pauta do obscurantismo. A ofensiva contra a Universidade era questão de tempo. Se na respeitável Academia das Agulhas Negras ensinassem filosofia e sociologia, Bolsonaro não estaria tendo que alugar sua cabeça para um astro-porno-filósofo da Virgínia.

O fato é que vivemos um quadro de autoritarismo e de obscurantismo. O pior, isso acontece em um momento em que o Governo precisa desarmar os espíritos, pois muita coisa está em jogo na política e na pauta do Congresso Nacional. Espero que o Presidente não esteja querendo, voluntariamente, incluir sua fotografia na galeria dos nossos presidentes breves, junto com Jânio Quadros, Color e Dilma Russef. Mais uma crise não faria bem ao País.

Na semana passada, voltando da manifestação me veio à cabeça uma linha do tempo. Há quase 50 anos, minha geração de 1968 também lutava nas ruas contra a ditadura e em defesa da Universidade. É inegável, as ditaduras e os regimes autoritários têm raiva da inteligência, tem nojo do espírito crítico, prefere o silêncio dos cemitérios e os aplausos dos bajuladores acríticos.

Fausto Matto Grosso/Engenheiro e professor aposentado da UFMS

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