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sexta-feira, 26 de abril de 2024

11 de Setembro: Em um dia sem guerra

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Amy Goodman, âncora de Democracy Now!, um noticiário internacional transmitido diariamente em mais de 550 emissoras de rádio e televisão em inglês e em mais de 250 em espanhol, comenta, nesta semana, o nono aniversário do atentado de 11 de setembro de 2001 e os 37 anos do golpe militar chileno que matou Salvador Allende.

O comentário foi traduzido do castelhano e revisado do original em inglês por Bruno Lima Rocha.

Eis o texto.

O nono aniversário dos ataques de 11 de setembro nos Estados Unidos deveria ser um momento para refletir sobre a tolerância. Deveria ser um dia de paz. No entanto, o fervor anti-muçulmano que existe aqui, somado a prolongada ocupação militar estadunidense do Iraque e a escalada da guerra no Afeganistão (e Paquistão), todo este conjunto, alimenta a idéia de que, de fato, os Estados Unidos estão em guerra com o Islã.

O 11 de setembro de 2001 uniu o mundo contra o terrorismo. Todo o planeta, ao que parecia, estava junto aos Estados Unidos, em solidariedade com as vítimas, com as famílias que perderam seres queridos. Essa data será recordada pelas gerações futuras como o dia em que se levou a cabo o infame ato de assassinato em massa coordenado, sendo esta a ação mais impressionante do início do século XXI. Mas esse não foi o primeiro 11 de setembro associado com o terror, tivemos outros:

11 de setembro de 1973, no Chile, o Presidente democraticamente eleito, Salvador Allende, morre enfrentando o acionar de um golpe militar apoiado pela CIA. Este dia marcou o começo de um regime de terror comandado pelo ditador Augusto Pinochet (1973-1989) e durante o qual foram assassinados milhares de chilenos.

11 de setembro de 1977, na África do Sul, o líder contra o apartheid Stephen Biko foi brutalmente espancado dentro de uma caminhoneta da polícia, vindo a falecer (decorrente dos golpes que levou) no dia seguinte.

11 de setembro de 1990, na Guatemala, a antropóloga guatemalteca Myrna Mack foi assassinada por militares que contavam com o apoio dos Estados Unidos.

De 9 a 13 de setembro de 1971, na penitenciária de Attica, estado de Nova York, ocorreu uma rebelião de presos durante a qual a polícia estadual assassinou a trinta e nove prisioneiros e guardas também ferindo a centenas de outros detentos.

11 de setembro de 1988, no Haiti, milícias de direita realizam um ataque durante missa celebrada pelo Padre Jean-Bertrand Aristide, na Paróquia de San Juan Bosco, cidade de Porto Príncipe (capital do país). Na ocasião são assassinados pelo menos treze fiéis e feridos, no mínimo, outras setenta e sete pessoas. Mais tarde, Aristide seria duas vezes eleito presidente, e duas vezes derrubado por golpes de Estado apoiados pelos Estados Unidos.

Se há algo que caracteriza o 11 de setembro, é o fato de ser um dia para recordar as vítimas do terror, a todas as vítimas de todo tipo de terror, e para trabalhar pela paz, tal como faz o grupo “Famílias do 11 de Setembro por uma Manhã de Paz”. Composto por pessoas que perderam seres queridos em 11 de setembro de 2001 quando do ataque contra as Torres Gêmeas, sua missão poderia servir como um chamado nacional a ação. Em sua página, eles escrevem: “Transformar nossa dor em ações pela paz é nosso objetivo. Ao desenvolver e defender opções e ações não violentas em nossa busca de justiça, esperamos romper os ciclos de violência engendrados pela guerra e o terrorismo. Reconhecendo nossa experiência comum com todas aquelas pessoas afetadas pela violência ao redor do planeta, trabalhamos para criar um mundo mais seguro e com mais paz para todas as pessoas.”

O estúdio de “Democracy Now!” estava localizado a poucas quadras das Torres Gêmeas. Estávamos transmitindo ao vivo quando elas caíram. Durante os dias seguintes, milhares de panfletos com as fotos dos desaparecidos voavam por toda a cidade, contendo os números de telefones dos familiares esperando uma ligação para caso alguém fosse reconhecido. Recordavam-me os cartazes levados pelas Mães da Praça de Maio na Argentina, essas mulheres com lenços brancos na cabeça que marcharam valentemente semana após semana portando fotos de seus filhos desaparecidos durante a ditadura militar que viveu esse país nos anos ’70 (1976-1983).

Também recordo a constante corrente de fotos de jovens do exército assassinados no Iraque e no Afeganistão, e agora, a cada vez mais freqüentemente (ainda que apareçam menos nos noticiários) as fotos daqueles que se suicidam depois de terem sido várias vezes convocados ao combate.

Para cada vítima dos Estados Unidos ou da OTAN há, literalmente, centenas de vítimas no Iraque e Afeganistão cujas fotos nunca serão mostradas e cujos nomes nunca vamos conhecer.

Enquanto uma multidão descontrolada e furiosa tenta impedir a construção de um centro comunitário islâmico na região do Baixo Manhattan (em um edifício vazio, ignorado durante anos e deteriorado; local que está distante mais de duas quadras da zona zero), um “ministro” evangélico do estado da Flórida está organizando para a data de 11 de setembro um “Dia Internacional de Queima do Corão.” O General David Petraeus afirmou que a queima, que tem suscitado protestos em todo o planeta, “poderia pôr em perigo às tropas.” E ele está correto. Bem como também põe em perigo as tropas ao bombardear a civis inocentes e seus lares.

Semelhante ao Vietnã nos anos ‘60, o Afeganistão tem uma decidida resistência armada local, com muita capacidade de entrega a sua causa, e um profundamente corrupto grupo em Kabul mascarado como governo central. A guerra está sangrando ao vizinho país, Paquistão, assim como a Guerra do Vietnã se espalhou para o Camboja e Laos.

Pouco depois de 11 de setembro de 2001, enquanto milhares de pessoas estavam reunidas nos parques da cidade de Nova York e mantinham vigílias improvisadas à luz das velas, um adesivo apareceu em cartazes, faixas e bancos de praça. Nele se lia: “Nossa dor não é um grito de guerra.”

Neste 11 de setembro, a mensagem segue sendo dolorosa e – lamentavelmente – oportuna.

Façamos de 11 de setembro um dia sem guerra.

Denis Moynihan colaborou na produção jornalística desta coluna.

Instituto Humanitas Unisinos

11 de Setembro: Em um dia sem guerra

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