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sexta-feira, 26 de abril de 2024

Das roupas velhas do pai

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18/01/2016 07h15 – Atualizado em 18/01/2016 07h15

Conversa nada fiada

*Por Odil Puques

Tenho uma profunda atração por coisas antigas. E como sou guardador de objetos que um dia possam significar algo. Chapéus, roupas, máquinas, cartas e fotografias fazem parte do depositório que insisto em manter sob guarda e vigilância.

Me interessa a história de cada um deles.

O chapéu que pertenceu ao avô paterno, trazido da Itália dos tempos em que ele fez parte daqueles que lutaram na grande guerra. Após as aventuras de travessia do oceano, de chegar a um território inóspito e desconhecido, de descobrir que existia neve, de ver amigos e companheiros sendo mortos e mutilados sob intenso ataque das bombas e balas inimigas, sobrou lhe um tempo para comprar um chapéu, certamente para volver mais garboso, impressionar as mulheres e poder dizer orgulhoso, que esteve por lá.

A máquina de costura da avó da avó, trazida junto com a fuga da fome, das pestes e das guerras, que ocorria justo do outro lado do oceano. Quantos testemunhos em formas de linhas e panos teria participado. Da casaquinha para os recém nascidos, do remendo da velha calça para o trabalho pesado nas lavouras, do vestido de noiva para o casamento e da mortalha feita pelos próprios.

De um pilão que veio do Sul, junto com famílias inteiras que se aventuravam em carretas puxadas por bois, por seis, oito meses, um ano até, em busca de terras e de paz. Por sua boca passaram alimentos que saciaram a fome de mulheres e homens e lhes concedeu a força necessária para continuar a saga, chegar onde chegaram, constituir descendentes, formar novos povos, novas cidades e por isso estamos aqui.

Das cartas dos amores esquecidos, não correspondidos, malfadados e daqueles que resultaram em muitos outros seres, inclusive você ou eu. Delas continha de um tudo, quando públicas endereçadas a todos da casa, desde a recomendação de um parente novo que chegava, aos cuidados com os aventureiros, dos preços praticados com o gado, quando particulares, falavam sobre os segredos da alcova, o que requeria uma operação de cumplicidade e confiança para a entrega.

Em homenagem a essas e tantas outras histórias que ainda guardo enterrado o meu umbigo.

O autor é advogado e escreve semanalmente nesta coluna.

Das roupas velhas do pai

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