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quinta-feira, 25 de abril de 2024

Mataram mais um! Até quando ficaremos calados?

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07/09/2015 07h00 – Atualizado em 07/09/2015 07h00

Crônicas de uma Alma Solta

Por Luiz Peixoto

“O que me preocupa não é o grito dos maus.
É o silêncio dos bons!”
(Martin Luther King)

Eu tinha pouco mais de 12 anos quando Marçal Tupã-Y foi assassinado a mando de ruralistas na cidade de Antônio João, no Mato Grosso do Sul. Não tinha a mínima consciência de classe ou de militância na época, mas já me sentia incomodado com o massacre recorrente das comunidades indígenas do meu estado. Nessa época eu era catequisando para o sacramento do Crisma, nunca esquecerei a Ir. Jandira nos dando uma aula sobre questão indígena, terra e cultura. O tempo passou. Eu fiquei mais velho, aprendi com a vida que a luta por terra é luta por pão e justiça, que as comunidades indígenas tem direito a retomada de suas terras, que nós, pobres, somos uma classe só… e segui vendo, lendo e ouvindo sobre outras mortes de lideranças Guarani Kaiowá no estado e quase nunca vendo os mandantes e assassinos irem serem presos e condenados.

Sei que meus textos costumam ser leves, afinal são crônicas. Mas esse segue um caminho diferente.

Um povo que mata os seus demostra o mais baixo grau de incivilidade existente. E nos matamos os nossos. Ou será que cada sangue derramado não é também nosso? Como diz um post que tem rolado na rede social, “Todos temos sangue índio no Brasil: uns na veia, uns na alma, outras nas mãos!”. Eu tenho na veia, por ascendência, e na alma por opção de luta e de classe.

Amambai é uma cidade é linda, não pelos pontos turísticos, afinal são praticamente inexistentes, mas sim pela sua gente. É uma cidade sui generis, singular, no tocante a sua população. Somos uma mescla de povos. Aqui existem os sulistas, oriundos e descendentes dos gaúchos, catarinenses e paranaenses. Temos os paraguaios e seus descendentes. Temos nordestinos, mineiros, paulistas… Afinal aqui foi um dos “eldorados” dos anos passados, onde pessoas de vários cantos buscavam oportunidades de riqueza, fama e sucesso. Mas aqui já tinha gente. Aqui viviam, e vivem, os Guarani e Kaiowá, povo indígena com história, cultura, valores e forma de vida e produção dos saberes e fazeres. Segundo dados oficiais, do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, e da FUNAI – Fundação Nacional do Índio, Amambai possui uma das maiores populações indígenas do Estado do Mato Grosso do Sul, com aproximadamente 9.000 seres humanos, vivendo em três aldeias no município (Amambai, Limão Verde e Jaraguari), perfazendo um porcentual de 25% da população do município, que, como todo ser pensante, quer ir além de onde está.

A morte do Kaiowá Guarani Semião Fernandes Vilhalva, de 24 anos, na retomada de terras em Antônio João, no final de Agosto de 2015, é só mais uma entre tantas. A mídia trata como se ele não tivesse nome. As reportagens falam em “um indígena baleado”, “um indígena achado morto”, e assim por diante. Não, meus caros! Não é apenas um. É o Semião. Ele tem nome, ele tem história, ele tem família, deixou um filho criança, deixou uma comunidade. Não, meus caros! Ele não foi baleado ou achado morto, ele foi assassinado pelo poder do agronegócio que domina a região. A presidente do Sindicato Rural de Antônio João, o senador e os deputados que lá estiveram, são responsáveis por essa onda da violência contra a comunidade Guarani Kaiowá de Ñanderu Marangatu.

Até quando o assassinato será visto como normal e justificável? Até quando o poder do agrobanditismo ditará as regras na fronteira? Reconheço que existem agricultores, produtores rurais com direito a posse de suas terras, com décadas de história e de produção sobre elas. Mas também sei que existem outros, que não tem esse direito, que expulsaram no passado comunidades inteiras para se apossarem de suas terras. Me nego, por princípio a compactuar com esse modelo que explora e mata.

Se você foi na Expobai, saiba que ajudou a financiar esse modelo. Não que todos lá sejam criminosos, mas o modelo é. Parabéns, a próxima bala terá sua marca, o próximo sangue, respingará também em você.

Acuso publicamente que a covardia e a omissão do poder público, nas suas três esferas, é responsável por esse e outros crimes.

Eu confesso que estou envergonhado nesses dias, de ver como o assassinato de mais um não incomoda a maioria. Mas eu ainda acredito, ainda luto, ainda espero que a justiça seja feita. Não a de Deus, e sim a dos homens.

Marçal: presente! Sua luta não será em vão.

“Dizem que sou uma pessoa marcada para morrer,
mas por uma causa a gente morre”
Marçal Tupã-Y.

Luiz Peixoto é Filósofo, pós-graduado em Pedagogia da Alternância. Amambaiense. Professor e Educador.

Mataram mais um! Até quando ficaremos calados?

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