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sexta-feira, 26 de abril de 2024

Sobre mulheres: respeito, ética e caráter

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10/08/2015 07h14 – Atualizado em 10/08/2015 07h14

Crônicas de uma Alma Solta

Por Luiz Peixoto

“Chamamos de ética o conjunto de coisas que as pessoas fazem quando todos estão olhando.
O conjunto de coisas que as pessoas fazem quando ninguém está olhando chamamos de caráter”
(Oscar Wilde)

Eu gosto muito de mulher! Não, isso não é uma proclamação da minha heterossexualidade. Continuarei sem assumi-la. É uma sentença de vida. Gostar de mulher não tem a ver com sexo, com práticas sexuais, tem a ver com princípio. Gosto delas desde que me entendo por gente. Venho de uma geração que, desde cedo, aprendeu que respeito não é favor, não se impõe, se tem por merecimento. E, meus amigos, mulher é ser que merece respeito. De todos, em todo tempo, para sempre. Nem vou entrar nas falácias do senso comum que nasci de uma e por isso amo minha mãe, isso não é mérito, é obrigação.

Eu gosto de mulheres! Por isso, as respeito. Respeito a mulher que é dona de casa, que é mãe e que a isso dedica sua vida, seu dia a dia. São elas que criam a base de uma sociedade que segue em frente. São as mulheres-mães as primeiras educadoras. Sei bem que, em teoria, a educação é de pai e mãe. Mas na prática, que vi e vivi, são elas, as mulheres que, com dupla jornada (ou tripla), educam os filhos, que lhes passam os valores primários de dignidade. Respeito as mulheres que me educaram e me escolarizam. Tive grandes exemplos em sala de aula, tão grande que quis ser educador. Respeito a mulher que questiona, que reflete, que se impõe, sem impor o que defende, apenas fazendo a gente pensar. Não citarei nomes, pois são tantas e esquecerei algumas. Respeito a mulher que se põe em movimento, que luta por seus direitos e seu espaço na sociedade. Uma luta que deveria ser de todos e todas, em prol de uma sociedade que veja como iguais os que são, na verdade, iguais. Respeito também a mulher que não se movimenta, que não age, que não tem voz ainda, e que por sua condição histórica, continua submissa. Respeito a mulher, e pronto! Sem motivos, por princípio, valores e formação.

Sou um cara de poucos amigos, um antissocial assumido, mas dos poucos que tenho, a maioria são mulheres. Não é por isso que as respeito. Isso é acaso. Podiam não ser minhas amigas e continuaria as respeitando. Tenho apenas uma irmã, hoje posso dizer que ela é minha amiga. Hoje, pois no passado éramos adversários, que disputavam cada espaço parco de atenção e reconhecimento. E eu a respeito, por ser a pessoa que é, profissional dedicada, estudante competente, avó assumidamente babona e meu anjo da guarda.

Respeita-las não me torna um “homem feminista”. Isso nem existe. Me torna sim um cara que tenta, a todo tempo, se opor ao machismo cultural e aceitável. Vivemos numa sociedade ainda machista. Isso se vê o tempo todo. Muitas cena me incomodam. E eu sou do tipo que quando me incomodo, reajo!

No dia 27 de julho, uma segunda-feira, fui a UEMS à tardinha e saindo de lá, fui pegar um exame de sangue da minha mãe no Laboratório Central. Na minha frente andava uma mulher, fazendo sua caminhada. Não importa a roupa que ela usava. Nem sei quem ela é. Saiu um carro do complexo médico ali localizado, um fiat branco, devidamente identificado como carro oficial, da Secretaria de Saúde, da Prefeitura Municipal de Amambai. Dentro dois homens, o motorista e um passageiro. Esse segundo, um senhor de cabelos brancos, mais do que os meus. Esse senhor, colocou meio corpo para fora do carro em movimento e exclamou, em altos tons: “Gostosa!”, “Se eu pego eu acabo com você!”, “Delicia, hem!”. A mulher que fazia sua caminhada, ficou visivelmente ofendida e constrangida. Apenas fez o gesto de erguer o dedo do meio, que todos os brasileiros entendem, abaixar a cabeça e caminhar mais rápido. Eu fiquei estarrecido. Não por nunca ter visto ou ouvido esse tipo de idiotice, mas pelo contexto sem si. Um carro oficial, a serviço do público, com um funcionário do poder público, desrespeitando uma cidadã, em via pública.

Arrependo-me de não ter na hora anotada a placa. Fiquei tão pasmado que nem me toquei. Só fiz soltar alguns palavrões. A vontade era pegar uma pedra a arrebentar o vidro do carro. Mas lembrei que minha arma nunca foi a violência física, sempre fui meio fracote. Minha arma sempre foi a palavra.

Desci para o centro da cidade, como quase todo pensador meio fora da casinha, falando sozinho, ou comigo mesmo, sobre o fato. Aquele cara, de cabelos brancos, representa um número expressivo de homens que não gostam de mulheres. Podem até sentir desejos por elas, mas afirmo que não gostam. Pois quem gosta, respeita.

Fiquei me perguntando: será que os homens que fazem isso na rua, nos bares, etc, acham que com esse tipo de abordagem “pegam” alguém? Ou fazem apenas para reafirmar sua heterossexualidade? Lembrando que quem precisa reafirmar, ou afirmar, é porque não tem muita certeza. Quem sabe o que é, não precisa de reafirmação.

Naquele momento eu queria ser aquela mulher. Teria, no mínimo, quebrado o farol daquele carro e esperado a polícia. É fácil para eu falar. Não carrego comigo o peso que é sofrer assédio em via pública pela vida toda.

Testemunho de uma amiga minha, Eliane, lá de Corumbá, que explica um pouco como as mulheres se sentem: “Eu particularmente não gosto de ser chamada de gostosa ou de qualquer outra forma desrespeitosa na rua. Me sinto um pedaço de carne frente a um cachorro faminto. Uma coisa, um objeto que se usa e joga fora… Eu gosto de elogios mas como tudo na vida, tem hora, lugar, jeito de se fazer e elogios íntimos são para pessoas e momentos de intimidade e não de qualquer desconhecido na rua. Respeito conquista muito mais do que estas vulgaridades.” Como dizem os jovens, fica a dica!

Respeito aquela mulher. Mesmo sem saber que ela é. Pela dignidade do ato de erguer o dedo do meio. Pena que as pessoas não entenderam ainda que assédio é crime. E vindo de um funcionário público tem mais agravantes ainda. Sou bom fisionomista, gravei o rosto daquele senhor. Cidade pequena é fácil cruzar com pessoas… Espero que ele leia esse texto, e que consiga refletir sobre ética, como ele gostaria que fosse tratado, sobre caráter, que tipo de homem ele é e que tipo de mundo ele quer.

Todo meu apoio à luta das mulheres. Não que elas precisem. Eu preciso!

Ps.: Sugiro a leitura do poema da Elisa Lucinda.

Luiz Peixoto é Filósofo por formação (UCDB). Cidadão Amambaiense por nascimento. Professor por opção. Educador por princípio e pensador…. por necessidade. Acredita na vida e nas pessoas e segue sonhando um mundo mais justo e mais igual.

Sobre mulheres: respeito, ética e caráter

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