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quinta-feira, 28 de agosto de 2025

Boca x River: quando o fantasma subiu ao céu, o inferno lhe abriu a porta

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16/05/2015 08h56 – Atualizado em 16/05/2015 08h56

Boca x River: quando o fantasma subiu ao céu, o inferno lhe abriu a porta

Fonte: Esporte Fino

Se estivéssemos apenas rindo do drone carregando ‘O Fantasma da B’, ainda nos restaria hoje algum resquício elogioso de uma rivalidade tamanha como a de Boca Juniors e River Plate. Se infiltrar no meio da torcida com o equipamento e operar a provocação quando a Argentina toda está de olho no Superclássico renderia alguns anos de fanfarrices em bares apertados pelas ruas envelhecidas mas não menos encantadoras de Buenos Aires.

Nem isso. Quando o fantasma subiu ao céu, o inferno lhe abriu a porta. Jogadores do River Plate corriam em direção ao gramado em busca de ar. Tempo depois uma câmera flagrou um torcedor do Boca soltando o gás de pimenta para dentro do túnel dos adversários. Horas mais tarde, ainda se descobriu que ele conseguiu furar o bloqueio com um soldador.

Um circo do absurdo, com a benção da Conmebol, que logo se apressou a tuitar que não dependia dela suspender o jogo, transferindo a responsabilidade para um juiz atônito, que vivia seu sofisma de Tostines. Como continuar a partida com os jogadores do River zonzos e com queimaduras no corpo? Mas como acabar com a partida e domar 50 mil hinchas sedentos?

A dúvida durou 1 hora e meia. O tempo suficiente para transformar um episódio grotesco em um constrangimento sem fim. O delegado da partida circulava por jogadores e repórteres tentando exibir um semblante de Sancho Pança embevecido. Suava, gesticulava e não conseguiu passar outra impressão que não fosse a de um estúpido buscando alguma espécie de protagonismo barato.

Algumas famílias sabiamente começaram a deixar La Bombonera. Perceberam que não havia nada mais ali que não fosse o ódio de uma rivalidade sem espelho naquele estádio. Torcida única, uma só voz. E ainda assim, o mais hostil dos climas, encarnado na pancadaria desenfreada no pouco de bola que se viu no primeiro tempo.

Mais duas horas até se decidir como escapar daquele vulcão. As vítimas do River Plate de pé, no centro do campo, aguardando um policiamento que lhes permitisse deixar o local em segurança. Os jogadores do Boca trocando bola e alongando as colunas, como se tudo aquilo fizesse parte dos ingredientes românticos da rivalidade. O reforço policial veio em forma de mais uma meia dúzia de escudos humanos tentando desviar garrafas e pedaços de cadeira que voavam como andorinhas em direção aos inimigos.

A Conmebol ainda não se pronunciou sobre o que fará agora. Mas preferiu a sutileza canalha de primeiro levantar a possibilidade de um novo jogo a sumariamente eliminar o Boca Juniors da competição. Quando morreu um garoto atingido por um sinalizador na Bolívia em 2013, nem o jogo foi interrompido. Por que agora seria diferente?

Seria mais fácil se o problema fosse apenas discutir a identidade das novas arenas ou a prática de mandar beijinhos para o telão de 100 mil polegadas. Num estádio historicamente sedutor, que nos remete diretamente a um verdadeiro devaneio coletivo, o que se viu ontem foi a face mais cruel da intolerância. A caixa de bombom do Boca exposta, enquanto olhos incrédulos e desesperançosos desvendam o segredo e percebem que a estupidez humana tem raízes tão fortes quanto a paixão imutável por um time que o cinema argentino nos ensinou.

Boca x River: quando o fantasma subiu ao céu, o inferno lhe abriu a porta

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