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domingo, 7 de setembro de 2025

Não nos importa morrer por essa luta, diz secundarista do Paraguai

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17/05/2016 10h16 – Atualizado em 17/05/2016 10h16

Sofía Burgos, 15 anos, conta como o movimento estudantil derrubou ministra de Educação e obteve compromisso do governo em reformar escolas, fornecer almoço e estabelecer diálogo

Fonte: MARSÍLEA GOMBATA – Carta Capital

Assim como os secundaristas que conseguiram barrar, ao menos oficialmente, a reorganização escolar em São Paulo e hoje lutam pelo direito à merenda digna, estudantes paraguaios ocuparam por pouco mais de uma semana colégios públicos da capital Assunção e foram vitoriosos: derrubaram a ministra de Educação, obtiveram o compromisso do governo em fornecer merenda e material escolar, além de estabelecerem uma mesa de diálogo permanente entre estudantes, o Poder Executivo e o Legislativo.

Sofía Burgos, 15 anos, estudante do Colégio Nacional Vice Presidente Sánchez e membro da Organização Nacional Estudantil (ONE), foi uma ativa participante das ocupações secundaristas do país: em Assunção fez parte da primeira ação do movimento conhecido por #tomadecolegios, resistiu à repressão policial e conseguiu, juntamente com companheiros de organizações como a Federação Nacional de Estudantes Secundaristas (Fenaes) e a União Nacional de Centros de Estudantes do Paraguai (Unepy), dar voz a alunos antes não ouvidos. “As ocupações eram a nossa única carta na manga, a melhor forma de exercer pressão, já que no Paraguai nunca havia acontecido uma mobilização estudantil desse caráter”, disse em entrevista ao Carta Educação. “A História nos convocou a escrevê-la. Não nos importa morrer por essa luta, porque é algo que beneficiará todo o presente e futuro do Paraguai.”

Leia a seguir a entrevista:

Carta Educação: O que pediam e pedem os estudantes paraguaios?

Sofía Burgos: Desde o ano passado conversamos com a então ministra Marta Lafuente para chegarmos a soluções definitivas sobre temas como almoço, kit escolar e a infraestrutura em estado crítico em alguns colégios. Foi sempre uma mesa de diálogo com muitas promessas ao longo de um ano. Até que nos cansamos e demos a ela um prazo de 48h para que renunciasse ou fosse restituída por um nome indicado pelo presidente. Como isso não aconteceu, cumprimos o prometido, que era tomar colégios caso ela não renunciasse em 48h.

CE: Quando começaram a tomar as escolas?

SB: As mobilizações começaram no dia 3 de maio, quando tomamos o Colégio Nacional República Argentina, um dos principais de Assunção ao qual pertencem muitos estudantes da Organização Nacional Estudantil (ONE), e foram até a quarta-feira 11, quando obtivemos a assinatura do presidente Horacio Cartes e do novo ministro Enrique Riera, de que lutariam por nossas reivindicações estudantis. Mais de cinco colégios foram tomados na área do Departamento Central, onde fica a capital. Em outras regiões, mais escolas e estudantes apoiavam a causa.

CE: De onde veio a ideia de ocupar?

SB: Surgiu como medida de pressão. Se hoje nós alunos deixamos de assistir às aulas, parte do sistema colapsa. Se um professor, por exemplo, não consegue ir ao colégio e dar aula, ele é descontado por dia sem trabalhar. Nosso movimento não foi inspirado em outras mobilizações. Simplesmente era a nossa única carta na manga, a melhor maneira de exercer pressão, já que no Paraguai nunca havia acontecido uma mobilização estudantil desse caráter.

CE: Por que pediam a saída da ministra? Quais as principais irregularidades de sua gestão?

SB: Em 2015 se estabeleceram muitas mesas de diálogos com a ministra para obter respostas para a problemática dos almoços escolares, além da falta de investimentos em infraestrutura nas instituições que estavam em estado crítico e problemas de capacitação de professores. A ministra prometia muito e não cumpria. Além disso, em sua gestão houve superfaturamento de itens da merenda, como chipa [espécie de pão de queijo], água e cozido, que passou a ser chamado de “cocido de oro”.

Sem contar que o estado de mais de 120 escolas era decadente. Os tetos caíam e parecia que não era com ela o problema. Como ministra da Educação ela deveria se importar e cuidar para que inocentes não morressem pela caída de um teto de uma instituição de educação pública. Tudo isso foi se somando para que tomássemos posições mais drásticas.

Nossa primeira mobilização foi dar um prazo de 48 horas para que ela apresentasse sua renúncia. Terminado o prazo, ela não apresentou renúncia e advertimos a tomada de colégios como o seguinte passo. Queríamos a sua saída, o redesenho do Ministério de Educação e Cultura, soluções para a falta de almoço, material escolar e capacitação de docentes.

Secundaristas ocupam colégio público em Assunção

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