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sexta-feira, 26 de abril de 2024

Teimosia e Esperança

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04/04/2016 07h15 – Atualizado em 04/04/2016 07h15

Crônicas de uma Alma Solta

Indiferenças em tempos atuais

Por Luiz Peixoto

Coisas que nos parecem impossíveis,
só podem ser conseguidas com uma teimosia pacífica.

(Mahatma Gandhi)

Assumo, eu sou teimoso! Teimei a vida inteira, e pretendo seguir teimando no curto tempo de vida que me resta. Nunca entendi que teimosia fosse defeito, posso estar errado, mas, para mim, é uma qualidade indispensável.
Quando era criança, crescendo em Amambai, ouvi sempre que deveria trabalhar muito, ajudar meu pai carpinteiro, e ter uma profissão para assim ter sucesso na vida. Teimei! Decidi que queria estudar, buscar outros caminhos. Estudei!

Na escola, fui levado a aprender que minha função como aluno era ouvir, escrever, ler o que mandavam, sem questionar. Não deu muito certo! Teimei! Falei o mesmo tanto que ouvia, afinal já me perguntava quem eram os construtores das grandes obras da antiguidade (só bem depois vim a conhecer o poema “Perguntas de um operário que lê”), já queria saber para que servia o teorema de Pitágoras e porque a língua culta não respeitava a tradição oral. Sempre li o que quis. Afinal, porque ler “Dom Casmurro” se posso ler “Capitães de Areia”, ou porque ler “Poliana Moça” se posso ler “Orgulho e Preconceito”. Nunca fui bom em obedecer!

Na escola, ainda, sempre foi dito, sem palavras, que o máximo possível era terminar o ensino médio (na época, segundo grau) e arrumar um emprego no comércio, na construção civil ou em algum outro serviço. Nada contra esses dignos ofícios, mas eu queria mais. Teimei! Fui embora, encarei um trabalho de 8 horas noturnas em um hotel, como porteiro, para cursar faculdade de matemática no CEUD/UFMS. Cursei!

No final do curso de matemática, resolvi que iria fazer filosofia. Ouvi de muita gente que “Isso não dá dinheiro”, não dá mesmo, a gente precisa ralar para ganhar. Teimei! Parti para Campo Grande e fiz o curso. Foi paixão ao primeiro texto. Amor que perdura até hoje. Lá, ouvi muito que eu deveria fazer mestrado, entrar pro mundo acadêmico. Teimei! Fui conhecer o mundo, viajar, trabalhar!

Durante muitos anos tive que ouvir algumas (muitas) pessoas dizendo que eu deveria casar, ter família, estabilizar. Teimei! Sou egoísta demais para me submeter aos desejos e vontades de outra pessoa. Não creio no que chamam de amor. Amo meus amigos e amigas. Amo minha família (sim, eu teimosamente, ainda a tenho). Segui teimando e sendo solteiro!

Em uma viagem ao Peru, em Lima, no Bairro Miraflores, ouvi a frase, de um amigo, sobre casamento e sexualidade: “Soltero maduro, maricón seguro”, em livre tradução “Solteiro velho, gay com certeza”. Teimei! Não acredito que casar ou não casar pode definir opção ou práticas sexuais. Cada um sabe o que faz da sua vida sexual e não acredito que isso seja da conta de outras pessoas. Sexualidade é da conta exclusiva de quem pratica. Durante tempos fui cobrado para que assumisse uma opção ou outra. Teimei! Não preciso casar para ser feliz e nem por isso preciso assumir nada. Sou livre para ser quem eu quiser. E isso não diz respeito a ninguém, a não ser a quem topa ir na cama junto. A minha vida só é de minha responsabilidade.

Como professor, sempre ouvi que nossa tarefa era transmitir conhecimento. Não aceitei. Teimei! Acredito que a tarefa de um educador é ajudar a pensar, a se aproximar do conhecimento com a mente aberta e o coração tranquilo, buscando saber e ser. Sigo teimando!

Na atual conjuntura, uma leva de pessoas atribui a crise econômica ao atual governo. E são tantas ofensas, tanto senso comum, que preciso teimar. Na realidade a crise é endêmica, e eu teimo em ter esperanças. A esperança é a mola que me move. Teimar para mim é ter esperança que as coisas podem ser diferentes. Que a gente pode fazer diferença no mundo e na vida dos outros.

Seguirei teimando!

Luiz Peixoto – Filósofo. Escreve semanalmente nessa coluna

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