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quinta-feira, 26 de junho de 2025

Programa mostra como sexo, humilhação e morte são armas da TV brasileira

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18/09/2013 16h01 – Atualizado em 18/09/2013 16h01

Programa mostra como sexo, humilhação e morte são armas da TV brasileira em busca da audiência

Fonte: Sul 21

Está circulando pelas redes sociais um documentário de pouco mais de 45 minutos sobre a qualidade da programação da televisão brasileira. A reportagem sobre a TV brasileira vista pelos estrangeiros é conduzida pela atriz inglesa Daisy Donovan e foi apresentada no programa “The Greatest shows on Earth” (Os grandes programas do mundo), do canal inglês Channel 4. Há uma ironia no uso da palavra “grande” aqui. O seu emprego não é necessariamente elogioso. Os programas destacados incluem shows de talentos na Índia, bizarros programas de auditório brasileiros, coberturas policiais sensacionalistas e alguns dos mais “loucos, bizarros e controversos” programas da televisão mundial, conforme as palavras da apresentadora. E, em se tratando de bizarrice, a televisão brasileira é um prato cheio.

“A televisão é a janela da alma de uma nação”, diz Donovan logo na abertura do programa. Nas matérias que realiza para o Channel 4, a atriz não se limita a assistir aos programas, mas participa ativamente dos mesmos, “fazendo papel de idiota”, como ela mesmo define. Na abertura do programa, ela observa que a televisão brasileira valoriza o “teatro do extremo”, um festival de carne e corpos, apresentados em cenários eróticos ou violentos. “O que posso aprender sobre o Brasil pela sua TV?” – interroga-se. Ela avança uma conclusão em tom de desabafo: “Meu deus, esse país não é para os fracos de coração!”. E logo em seguida, começa a conhecer alguns dos principais pratos da televisão brasileira: telenovelas com tramas melodramáticas, programas policiais e festivais de bundas, entre outras atrações.

Logo em sua chegada ao Brasil, Daisy Donovan vai a um bar em São Paulo para acompanhar o que a população assiste no dia-a-dia na tv. “Sou exposta a um festival de carne”, comenta espantada ao ver um programa sobre o Miss BumBum 2012, um concurso para escolher o melhor bumbum do país. No Brasil, o bumbum pode te levar a lugares importantes, diz uma das candidatas: “No Brasil, pra gente entrar na mídia, na televisão, muitas vezes a gente tem que entrar, digamos, pela porta dos fundos. A gente tem que primeiro mostrar a nossa beleza para depois mostrar para o que a gente veio de verdade, para depois mostrar o que a gente tem por dentro e a capacidade intelectual que a gente tem”.

A televisão brasileira, observa Donovan, tem uma “obsessão com a carne feminina”. Essa obsessão, acrescenta, tem um lado desconfortável e quase sinistro. Ela pergunta a um jornalista da Folha de S.Paulo por que o bumbum é tão popular no Brasil. A resposta dele avança uma tese sociológica sobre as preferências dos brasileiros e sobre a autoestima das brasileiras, “especialmente das mais pobres”: “O bumbum é a preferência brasileira. Todos os brasileiros amam o bumbum. As mulheres brasileiras gostam de se sentir, não bem como objetos, mas elas gostam de ser admiradas. Isso é algo curioso, as mulheres brasileiras têm a mais alta autoestima do mundo. Se você perguntar para qualquer brasileira, especialmente da classe baixa, mesmo se não forem bonitas, elas dirão que se acham lindas”.

Chama a atenção, na noite de premiação do Miss Bumbum o olhar constrangido e um tanto melancólico das jornalistas que acompanham o evento por obrigação profissional. O insólito concurso de miss, porém, adverte Donovan, é apenas o começo da questionável fixação da televisão brasileira com as mulheres. O programa mostra também o tratamento dado às mulheres no programa Pânico, exibido na rede Bandeirantes, em especial no quadro das Panicats, “um grupo de mulheres de biquini que competem em jogos espetacularmente sem propósito”. “O que me parece ser um programa degradante, quase sadomasoquista, incrivelmente passa às 21 horas no domingo para 10 milhões de espectadores”, comenta a apresentadora do programa inglês, sem esconder o mal-estar.

Existem limites na busca por espectadores na televisão brasileira? – pergunta ainda a apresentadora-repórter. Tentando encontrar uma resposta a essa pergunta, Daisy Donovan vai conhecer outro clássico da programação da tv brasileira: os policiais sensacionalistas. Ela visita o programa “Na Mira”, produzido em Salvador e assistido duas vezes por dia (uma delas no horário do almoço, logo após um programa infantil) por um público de milhões de espectadores. Donovan não economiza no sarcasmo ao conversar com a apresentadora do programa. Ela pergunta se o programa tem algum limite: “sim, eu não concordo com alguns xingamentos porque é horário de almoço”, diz Analice, a âncora do “Na Mira”. “Eu adoro que não seja permitido xingar durante os assassinatos”, comenta Daisy.

“Na Mira”, assinala ainda, é um dos muitos programas brasileiros que embaçam a linha entre o crime e o entretenimento. Mas alguns vão muito além, ressalta, relatando o caso do programa “A Tarde é Sua”, da Rede TV, que, em outubro de 2008, fez uma negociação ao vivo com Lindenberg Alves, de 22 anos, que mantinha sua ex-namorada refém sob a mira de uma arma. “Incrivelmente, uma apresentadora do horário da tarde decidiu negociar com ele ao vivo. Os esforços da apresentadora falharam e, no fim, ele atirou e matou sua ex-namorada”, relata o programa. Mas a sede da mídia brasileira pela história não terminou aí: enquanto Lindenberg era condenado a 98 anos de cadeia, a mãe da vítima, Ana Cristina, tornou-se uma celebridade (…) O Programa SuperPop a levou para um descanso num spa com direito a um “banho de loja”.

A cereja do bolo do programa britânico são os grandes shows televisivos de entretenimento assistidos por milhões de pessoas todas as semanas, em especial aos domingos. Mais de 100 milhões de pessoas assistem a esses programas nos mais variados canais e formatos. Daisy Donovan é convidada a participar do auditório de um desses programas, o “Domingo Legal”, do SBT. Qualquer tentativa de fazer caricatura desses programas fracassa diante da realidade dos mesmos. “Nosso foco está nas massas. Infelizmente elas não são muito educadas porque estamos num país de terceira classe e quando você não é tão educado, você não entende os prazeres, os sentidos. Eu quero que o programa seja divertido, interessante”, explica Patricia Santos, filha do dono do canal. Sexo e morte são dois dos principais ingredientes dessa programação “divertida e interessante”.


Programa mostra como sexo, humilhação e morte são armas da TV brasileira

https://youtube.com/watch?v=QM-Ujx7JET4

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